quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Consequências

- Era essa a reação que eu sempre imaginei de você depois de tudo que nós passamos...
Ele me olhou nos olhos, se afastou e disse:
 - Não queria que fosse assim...
Eu o interrompi, coloquei a mão nos seus lábios para que não falasse mais e disse:
 -Talvez eu tenha que chorar pra saber que tudo que nós passamos foi real.
Ele tirou minha mão de sua boca com delicadeza, enxugou minhas lágrimas e disse:
 -Não, não chore por mim. Tudo o que nós passamos foi mesmo real.
 - Você não entende! Pra mim foi mais que real... foi perfeito, à nossa maneira, e foi inesquecível.
 -Pra mim também, acredite. 
 -Não acho que eu consiga acreditar 
Eu acreditava, mas ninguém precisava saber disso. Ele principalmente.
 -Por favor, acredite, é só o que eu te peço.
 -Não posso! Voçê já está com outra. Aquela que lhe pode proporcionar tudo que eu não pude.
E ainda não posso, acrescentei mentalmente .
Ele se aproximou e tentou me beijar, como se fosse me consolar. Eu repeti a ação de colocar a mão em sua boca e disse:
 -O presente é uma consequência do passado. E o futuro prevemos com ações
do presente. Não me beije, você vai se arrepender.
Ele se surpreendeu e disse:
 -Ela não significa nada perto de você.
Me limitei a adizer:
 -Então faça a sua escolha, porque eu já fiz a minha.
 -E qual foi a sua?
 -Um dia você saberá.
 -Diz.
Ele tirou minha mão de sua boca, entrelaçou seus dedos nos meus, me puxou pra perto e disse:
 -Diz agora.
 -Você não pode fazer isso comigo... não mais.
Dexei uma lágrima cair, porque todos sabiam que sim, ele ainda exercia um certo poder sobre mim. Mas,ao ver,fui convincente.
 -Tudo bem, então.
Ele olhou para os lados, como que se não quisesse nada, depois olhou pra mim e me beijou.
Eu não recusei aquele beijo, porque eu sabia que seria o nosso primeiro, e último, beijo.
Mas também não reagi de forma alguma.
Ele se afastou e então eu pude ver naqueles olhos azuis maravilhosos, que eu sempre imaginei emoções diferentes, uma pontada de arrependimento.
 -Foi o que eu pensei. 
Ele disse, com pressa:
 -Não, não é o que você tá pensando! Eu não me arrependo de nada e vou te querer pra sempre.
Eu o olhei e então soube... ele não se arrependia de nada, até então.
Simplesmente sorri e disse, com toda sinceridade do mundo:
 -Eu não preciso mais das suas explicações e você tampouco precisa se explicar. 
Ele olhou através de todas as minhas emoções e disse friamente:
 -Tem razão, afinal. Eu não te mereço.
 -Não me venha com essa!
 -Você sempre soube disso.
 -Não importa agora. Vá e seja feliz. Você já me esqueceu e isso é evidente. 
 -Como você pode ter certeza do que diz? Em momento algum eu disse isso.
 -Você vai negar? Se eu ouvir você dizer que tudo não passou de um sonho ruim e você ainda não me esqueceu, talvez haja esperanças pra nós dois. 
Ele olhou pra mim e depois abaixou os olhos, ficou calado.
 -Não há, todos sabem disso, não é mesmo? 
 -Espere...
Eu o olhei, sem dizer algo e esperei.
 -Você se arrepende de ter vindo me procurar?
 -Não sei porque vim, mas não... não me arrependo. 
 -Então fique!
 -Não.
Derramei a última lágrima que ele poderia ver. Saí pela porta e deixei escapar ''Eu ainda te amo. Estarei aqui às seis''. Sei que ele jamais ouvira.

Um comentário:

  1. por mais que ele jamais ouvira, ali ele estará, como havia dito que faria sempre, estando voce aquela hora ou não.

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